Carta #2: Fracassada

Meu telefone vibra, eu olho para ele com a esperança de sempre que pode ser você, a única diferença das outras vezes é que dessa vez estou certa.
Chego perto do telefone com meu estômago roncando, tudo bem, até pode ser fome, mas não acho que é o caso. Quando estou quase apertando o aceitar paro e penso: Será que eu realmente devo atender alguém que nunca me fez nada de bom? Ainda mais com essa euforia que eu estou sentindo agora? É obvio que eu não deveria. É obvio que eu atendo.
Logo depois do "alô" você já me diz que sabe que feio tudo errado (literalmente: tudo) e que sente muito, que se arrepende muito, mas que se eu te dar mais uma chance, você jura que vai arrumar tudo: arrumar um emprego, falar com meus pais e quem sabe até se casar comigo, fazendo assim os anos que eu perdi com você valerem a pena, para eu não me sentir a fracassada que eu acho que sou.
Então eu aceito, choro, digo que sim e logo depois tenho uma sensação de dejá-vu, não foi exatamente isso que você me disse da última vez? Quando eu te aceitei de volta? Bom, eu sei que eu não me importo, afinal, com certeza, dessa vez vi ser diferente.
Tá, tudo bem, já contei a historinha, ou melhor "estorinha", não, não aconteceu. Eu passei meu ano novo entre edredons esperando que meu telefone vibrasse. Vibrou. Mas não era você. Eu chorei. Orei. E dormi quando deu 00:01, só para não decepcionar de vez a minha família. Aquele era o prazo definitivo pelo qual eu ainda aceitaria um "sinto muito" e, trouxa do jeito que sou, com certeza te arrastaria de volta para minha vida. O prazo acabou. E eu ainda estou sofrendo muito. Não porque te quero de volta. Não porque você já está provavelmente com outra. Nem por qualquer outra razão que envolva você no presente. Mas porque eu me arrependo de cada segundo da minha vida que eu passei do seu lado enquanto eu podia estar com pessoas muito melhores. Pessoas que realmente me amavam da forma que você dizia me amar no começo, quando eu ainda tinha alguma coisa que te fosse ao menos um pouco conveniente.
Acima de tudo, eu tenho um agradecimento para te fazer. Muito obrigada por ter me deixado. Quero dizer, muito obrigado por não ter me ligado até aquela meia noite. Porque você querendo ou não me libertou. Me deu a chance de sair, de tomar uma decisão que não fosse num momento frágil, uma decisão onde eu realmente estivesse usando pelo menos 1% do meu cérebro, porque era só disso que eu precisava para perceber que a única forma de ser a fracassada que eu achava que era, era continuando com você, porque fracasso é uma doença contagiosa. E você é um fracassado por querer viver assim.
Você pode me mandar mensagens, me ligar, vir na minha casa ou até mesmo me responder essa carta, porque dessa vez, não vai me afetar, e eu juro, com todas as minhas forças que eu não vou abrir os braços de novo. Não mais. Não para você.

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